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(Des)Conheces?

Um dos principais entraves à (r)evolução é a ignorância. Não deixes que seja o teu caso. Informa-te sobre a realidade para a mudares.

Foto do escritorPlasticida

Sandra Ramos: “A lei deveria promover a abolição de sacos de plástico”

Não consegue identificar o momento em que voltou os olhos para a ecologia. Mas sabe que, desde cedo, procurou convencer a família a ter práticas sustentáveis. Anos mais tarde, a Internet levou até ela o Movimento Plástico Zero. Como “os algoritmos funcionam”, as Plasticidas chegaram ao Movimento Plástico Zero e, através dele, chegaram a ela. Chama-se Sandra Ramos e é uma das autoras da petição “Abolir o Plástico descartável em Portugal”. No meio da vida de professora de desenho, de pintura e de cinema de animação, Sandra teve tempo para nos dar (muitas) dicas para melhorarmos o mundo. Esta conversa é sobre os desafios que Portugal ainda tem pela frente, no que respeita ao plástico. Mas também é uma conversa que prova que a mudança está nas mãos de cada um, através dos gestos mais simples. Podes começar por assinar a petição aqui.

Sandra Ramos, Movimento Plástico Zero. Foto: DR

Como começou a despertar interesse pelas questões ambientais? Não lembro exatamente quando começou o interesse, mas... Há muitos e muitos anos – não sei quantos nem encontro referência na Internet – quando apareceram os primeiros contentores para triagem de lixo, será talvez a memória mais antiga que tenho de tomar em mãos uma forma de contribuir para diminuir a pegada ecológica. Encarreguei-me eu de descer os lixos recicláveis, como forma de convencer a família a aderir à reciclagem desde o primeiro momento.


Parece que nunca se falou tanto do desperdício do plástico como agora. Todas as semanas saem várias notícias sobre o plástico que existe nos oceanos. Será apenas um reflexo do poder de comunicação das redes sociais? Ou Portugal está, de facto, mais consciente? Penso que seja uma mistura de ambos e, na verdade, as redes sociais, nestas questões, têm o efeito positivo de disseminar uma mensagem e entrar pela casa dos mais intrépidos resistentes à mudança e ao engajamento – pela causa ecológica, neste caso. Ver e não mudar é possível, mas fica a semente e a repetição terá, espero, um efeito positivo nas mentalidades. O outro efeito colateral que poderá contribuir é o fenómeno moda – a ecologia está mesmo na moda. Como todas as modas (ou quase) vem com deturpações terríveis e as pessoas continuam a consumir excessivamente, tranquilizadas pelo facto de ser material x, y ou z resultado de reciclagem. E quantas pessoas usam polar sem pensar que é plástico (em fibras mini, o mais difícil de impedir de invadir os nossos cursos de água, oceanos...), roupa de nylon...?


Que papel tiveram as redes sociais para a divulgação, em particular, do Movimento Zero Plástico? Um papel fundamental. Enquanto movimento, foi assim que tomei contacto. Os algoritmos funcionam e as pessoas como eu, interessadas nas questões ambientais, foram “bombardeadas” com informação acerca deste movimento, umas mais cedo do que outras... Com o tempo e a adesão entusiasta de quem se envolveu desde o início, começou a aparecer também nos feeds de todas as outras pessoas e a suscitar curiosidade.


"A ecologia está mesmo na moda"

Em 2015, os portugueses passaram a pagar os sacos de plástico leves nos supermercados. Mais de um ano depois, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição adiantava que o consumo desse tipo de sacos tinha caído acima de 70%. Mas, em 2017, o presidente da Quercus, João Branco, afirmou que o consumo estava a voltar a subir. Os portugueses habituaram-se a pagar os sacos. O que é que falhou nesta lei? Parece-me que há a questão da habituação, sim. Na verdade, o que acredito que a lei deveria promover, uma vez que os nossos órgãos de governação não apostam em reais campanhas de educação de base, seria a abolição de sacos de plástico. Existem alternativas e tem de haver a coragem de as apoiar. Nem todos os produtos se guardam bem em sacos de papel, mas a maioria sim e, para restantes, há “plantastic” e afins. No meu entender, tem que haver um estímulo à produção e comercialização de sacos e embalagens biodegradáveis, reutilizáveis... etc...


O Movimento Zero Plástico também tem como objetivo criar uma lei. O objetivo é “proibir a utilização de objetos de plástico de utilização única”. Têm planos de sensibilização pensados para aumentar a eficácia da norma?

Obviamente que nem todas as pessoas (empresários, comerciantes...) têm noção das alternativas, apesar de nos invadirem os ecrãs com regularidade. No meu entender, é importante que as alternativas sejam apresentadas a quem usa este tipo de objetos – começando, talvez, nos eventos de larga escala, como festivais de música (o Boom utiliza copos de “plantastic”, talheres e pratos de material biodegradável... é mesmo possível!). As alternativas, acredito, são apenas um passo intermédio, mas um passo intermédio importante, até que a consciência chegue ao ponto de pararmos de usar objetos de uma única utilização, sejam eles de plástico ou não.


Foto: DR


Mesmo que usemos formas sustentáveis transportar as nossas compras (como sacos de pano), os supermercados continuam a disponibilizar sacos de plástico para pesar frutas e legumes, por exemplo. O que é preciso fazer para mudar esta realidade? Exato. Incluindo supermercados biológicos, o que acho, no mínimo, um contrassenso. Penso que respondi [anteriormente]. “No meu entender, tem que haver um estímulo à produção e comercialização de sacos e embalagens biodegradáveis, reutilizáveis...” Só assim se consegue tornar este tipo de produtos competitivo em termos de preços, pois em termos de qualidade já o é.


"As alternativas, acredito, são apenas um passo intermédio, mas um passo intermédio importante"

Que hábitos sustentáveis simples podemos todos adotar no nosso quotidiano? Tantos! Nem todos consegui incluir a 100% na minha vida, mas vou caminhando... Andar com uma garrafa de/para água; recusar sacos de plástico nos supermercados (e duplas embalagens, já que aqui estamos); trazer sempre um saco de pano na mala, para a eventualidade de ter de ir às compras; escolher produtos feitos com matérias não-plásticas sempre que existam no mercado (os meus pensos higiénicos são produzidos sem plástico:) ); deixar de usar cotonetes com pauzinho em plástico (há alternativas de papel e de madeira); usar isqueiros recarregáveis de metal, em vez dos descartáveis; usar champô sólido e sabão/sabonete (não requerem embalagens plásticas); recusar colheres de plástico para mexer o café... tanta coisa... Fui colocando o que me ia lembrando, mas são tantas as coisas simples e eficazes que podemos fazer! E muitas não só não implicam gastos extra como até os reduzem.


Qual a sua maior ambição para o Movimento Plástico Zero? Que se torne desnecessário/obsoleto. Rapidamente.

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