Marta Alves
Quando surgiu a ideia de explorar esta questão, confesso que fiquei reticente. Não porque tenha dúvidas da importância e/ou urgência do assunto; tão pouco por considerar que tudo o que já está a ser feito seja suficiente; o meu problema era a falta de confiança nas pessoas – afinal das contas, este flagelo só existe por causa de ações irrefletidas de – acertaram – pessoas.
E não sou hipócrita. Eu incluo-me nesse conjunto de seres que têm mais com que se preocupar e que se esforçam por fazer contar todos os dias até ao dia em que eles – os dias - deixam de contar… Tinha dificuldades em acreditar no chamado “ativismo do rato”. Talvez por ser da área da comunicação e compreender que há sempre uma agenda subjacente; ou, simplesmente, por causa dos meus problemas pessoais de confiança. De qualquer das formas, custava-me acreditar que algo pudesse mudar por causa de um post de Facebook.
Até ao Plasticida. Até compreender a força que a vontade humana pode ter. Até reerguer a confiança num grupo de quatro pessoas (autointituladas de Plasticidas!) que podia se ter dedicado a assuntos de entretenimento, moda ou estilo de vida – tudo interessante, não leiam crítica nesta lista - mas decidiu dedicar três meses (mais?) de um projeto online académico a provar que o meu preconceito está errado e que, afinal, é possível, pelo menos, tentar.
Não me interpretam mal, não advogo um mundo utópico: sei que os maiores problemas irão persistir, sei que as maiores empresas continuarão a criar rios de lixo (expressão irónica, eu sei), sei que muitos de nós continuarão a comprar uma garrafa de água de plástico. Mas agora, em vez de simplesmente não tentar, acredito na luta para procurar vencer – seja pelo cansaço, seja pela vontade de melhorar ou pela hipocrisia de não querer parecer mal (não é ideal, mas sejamos pragmáticos) – e, por isso, as pessoas começarem a repensar os seus atos.
E, no fundo, é só isso que procuramos incutir: o (re)pensar (custa-me acreditar que já tenho parado para pensar uma vez) no panorama geral e ver onde cada um dos nossos umbigos se encaixa em função dos – umbigos, leia-se - dos (não sei se todos têm este constituinte, mas percebem a ideia) milhões de seres que morrem por ano. Tudo se resume, enfim, a uma luta de umbigos: símbolo de vida e génese. Irónico, não?
A minha confiança na humanidade, por agora, circunscreve-se a este grupo de quatro pessoas. Mas, devido ao raciocínio científico que teima em não me deixar, estou disposta a extrapolar essa confiança para o resto da humanidade – só preciso de uma amostra representativa.
Podes ser tu que estás a ler este texto. Podem ser as pessoas em quem acreditas. Podem ser as pessoas que escolhem não usar palhinhas neste mundo, onde se é excluído por se dizer algo fora da norma. Podem ser estes. Podes ser tu. Podemos ser nós.
Pela boca morre o peixe. Se nessa boca, estiver um saco de plástico que o peixe, inocentemente, confundiu por uma anêmona. Pela boca morre o peixe. Se nessa boca, estiver uma (famosa) palhinha que, qual faca, perfura sem piedade, os seres que apenas procuravam alimento.
Pela boca das minhas colegas que acreditaram neste projeto, morreu o meu preconceito. Pela boca, morre o peixe. A curto prazo. Porque se não revertermos a situação, em última instância, morreremos nós.
Comentarios