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Paula Jorge: O Comodismo é o principal vilão


O Comodismo é o principal vilão no que diz respeito à mudança de comportamentos"

Investigadora da Universidade do Minho (UM) e criadora da petição "Pelo Fim do Plástico Descartável nos Bares da Universidade do Minho", Paula Jorge, lembra-se de se sentir aborrecida com a sua mãe quando esta não separava as embalagens. No entanto, aponta a transição para o veganismo como grande influência na sua preocupação ambiental. Acredita na mudança de mentalidades e comportamentos e realça a resposta favorável da UM, no que concerne ao uso excessivo de plástico descartável. Contudo, destaca o comodismo das pessoas como principal condutor da resistência.

Nesta entrevista, podes, ainda, encontrar a opinião da investigadora sobre a adesão da comunidade académica à petição, o balanço que faz da mesma, a sua resposta às críticas e, finalmente, dicas e conselhos para reduzir o consumo de plástico. Dá uma espreitadela!


Paula Jorge, autora da petição "Pelo Fim do Plástico Descartável nos Bares da Universidade do Minho". Fonte: DR.

Recorda-se de um momento particular que tenha despertado a sua atenção para os efeitos do plástico no ambiente?

Não detenho nenhum momento particular em mente, mas desde há muito que me lembro de embirrar com a minha mãe quando ela não separava as embalagens! Mas penso que, nos últimos anos, a minha preocupação com o meu impacto no meio ambiente aumentou bastante. Nomeadamente no que concerne ao impacto negativo que o consumo de plástico (e não só) tem na vida animal. Talvez a minha transição para o veganismo, faz mais de 2 anos, tenha influenciado bastante esta minha mudança de percepção.

Sabemos que é a autora da petição pública “Pelo Fim do Plástico Descartável nos Bares da Universidade do Minho”. Na universidade, são estes os locais em que denota maior desperdício de plástico?

Apesar do uso de plástico descartável a nível dos bares ter sido, na altura, o que me chamou a atenção e despoletou a elaboração da petição, a realidade é que existem outros locais fulcrais, em que o uso do plástico descartável é massivo. Nomeadamente nas máquinas de venda automática de bebidas quentes. Ao pensar na quantidade de pessoas que toma um ou dois cafés por dia, nestas máquinas, sem a opção de utilizar a própria chávena (as máquinas actuais não o permitem), fico assustada…

"Desde há muito que me lembro de embirrar com a minha mãe quando ela não separava as embalagens!"

Recebeu algum feedback da Universidade do Minho, no que toca a esta iniciativa?

Sim, e bastante positiva! Houve, desde o início da petição, alterações de comportamento, pois vi retirados dos bares, por exemplo, os copos de plástico com que as pessoas se serviam de água. Logo aí constatei que a UM estava atenta a esta iniciativa e que, com certeza, concordava com a premissa. No final da petição, e após o envio da lista de assinaturas, os Serviços de Acção Social emitiram uma resposta formal na qual referem já estarem a planear substituir o plástico descartável por artigos de material biodegradável ou reutilizável, assim como substituírem as máquinas de venda automática por outras com a opção “sem copo”. Toda esta e mais informação constante na resposta dos SASUM foi reencaminhada, por mim, para a comunidade académica, no dia 11 de Maio de 2018.

Considera que as instituições de ensino/investigação estão suficientemente familiarizadas com estes assuntos ambientais ou os aspetos financeiros continuam a falar mais alto?

Felizmente, verifica-se cada vez mais uma mudança de mentalidade, quer individual quer corporativa, no que diz respeito a este assunto. Infelizmente, este tipo de mudanças é sempre lento ao segundo nível, dado que mexe numa logística mais complicada do que aquela que experienciamos nas nossas casas, por exemplo. O aspecto financeiro não justifica a resistência à mudança, pois muitas das alternativas ao plástico descartável são, de facto, mais económicas! Vejamos o exemplo da utilização de artigos reutilizáveis ou a opção “sem copo” das máquinas! Penso que o comodismo é o principal vilão em todas as áreas no que diz respeito à mudança de comportamentos. E isto verifica-se também nas instituições de ensino superior, onde o conhecimento devia “falar” mais alto mas muitas vezes só anda a “sussurrar” pelos cantos…

"Ao pensar na quantidade de pessoas (...) toma um ou dois cafés por dia nestas máquinas, (...) fico assustada…" Foto: DR

E quanto aos alunos da Academia Minhota? Sentiu a adesão da comunidade académica a esta causa? (De que forma?)

É difícil avaliar a adesão dos alunos dado que muitas pessoas podem ter escolhido não colocar o seu número de identificação da UM, ao assinar a petição. De qualquer modo, os que o fizerem (identificações do tipo “a” e “pg”) rondam os 300, o que não é de todo um número muito animador… Talvez a divulgação por e-mail, junto desta comunidade, não seja a mais eficaz, mas estava à espera de uma maior adesão!

Com as 1.488 assinaturas recolhidas, qual o balanço que faz desta petição? Independentemente do número de assinaturas, o balanço é extremamente positivo. Não só o objectivo da petição foi cumprido- chamar a atenção da comunidade académica e da UM, como instituição, para este problema, obtendo por parte da última uma mudança de atitude - mas também foi possível uma grande divulgação da petição - e do problema a que ela refere - em meios de comunicação social, tal como rádio, jornais e páginas online, e, para grande surpresa minha, na televisão! Isto provou que a temática referente ao uso de plástico está em voga e é uma preocupação actual da população.


"O aspecto financeiro não justifica a resistência à mudança, pois muitas das alternativas ao plástico descartável são, de facto, mais económicas!

Certamente que, com a petição lançada, lidou com pessoas que não concordaram ou até criticaram a causa. O que gostaria de lhes dizer para apelar à seriedade e gravidade da situação?

É natural que surjam sempre pessoas que têm algo a dizer, mesmo quando não estão devidamente informadas ou sensibilizadas para o tema. As críticas que recebi dividem-se em dois tipos. O primeiro proveniente de pessoas que acham que não vale a pena fazer pequenas mudanças, pois se não resolves o problema na sua totalidade… nem vale a pena tentar; e que a UM é um meio muito pequeno para alguma mudança ser impactante. Este tipo de críticas é frequentemente atirada a quem é, de alguma forma, activista, e faz-me pensar se estas pessoas seriam capazes de dar de comer a um mendigo com fome, se não resolverem o problema de fome em África primeiro… O segundo tipo vem de pessoas que criticam na base do desconhecimento sobre o assunto. Este último visou, principalmente, pessoas que acham que o problema não está no uso excessivo de plástico, mas sim na falta de reciclagem do mesmo. Não há dúvida nenhuma da importância da reciclagem, mas estamos a falar de um processo cuja escala poderia ser bem mais pequena e que acarreta custos para o ambiente e para os contribuintes. Mais importante ainda, o problema do plástico inicia-se aquando da sua produção, altamente poluente e nefasta para o meio ambiente, que recorre a combustíveis fósseis (fonte de energia não renovável) e cujo objecto de produção é utilizado por meros minutos simplesmente pela comodidade.

Após a exposição mediática que a petição teve, acha que ficou algo por dizer/esclarecer? Os pontos que referi na pergunta anterior são os mais importantes. Resumindo, qualquer mudança positiva, por mais pequena que seja, deve ser mais do que bem-vinda pois é nela que as maiores mudanças se vão apoiar; adicionalmente, gostaria que as pessoas se mentalizassem que a reciclagem não é solução, mas sim um remedeio e que devemos por um grande travão à produção do plástico descartável.


"Faz-me pensar se estas pessoas seriam capazes de dar de comer a um mendigo com fome se não resolverem o problema de fome em África primeiro…"

Quais os pequenos (grandes) comportamentos que toma, diariamente, para reduzir o consumo de plástico descartável?

Para além de não comprar itens descartáveis, como loiças, palhinhas, etc, utilizo uma garrafa de água reutilizável de material duradouro. Levo sacos de pano para pesar fruta e legumes no supermercado, assim como sacos de pano maiores para levar todas as compras. Uma das últimas mudanças que fiz foi a compra de um copo menstrual à base de silicone, com duração de 10 anos ou mais, e que me permite eliminar totalmente a utilização de pensos higiénicos e tampões do meu quotidiano. Outros pequenos gestos são escolher produtos em embalagem de vidro em vez de plástico (quando disponível), e comprar alguns alimentos a granel.

"Uma das últimas mudanças que fiz foi a compra de um copo menstrual à base de silicone, com duração de 10 anos". Foto: DR

Hoje, depois de lidar com todas as repercussões da petição, manteria a crença na causa e lançaria este debate para a esfera pública?

Sem dúvida nenhuma!

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