Florbela Caetano
“ Portugal lidera projeto europeu no setor espacial ”. “Pedro Kol sagra-se Tricampeão Europeu de Kickboxing em Portugal”. “Tratamentos inovadores permitem aumentar sobrevivência dos doentes com cancro do pulmão”. “Plástico acumulado no mar equivale a três Franças”. Entre estes títulos, há um elemento estranho, não há?
A mistura é propositada. No meio de uma miríade de notícias negativas, dificilmente uma informação ambiental se destacaria. Prova disso é que, à data em que escrevo este texto, Portugal está de olhos voltados para um atentado terrorista, para a prisão dos independentistas catalães e para o surto de sarampo. Contudo, o ambiente é igualmente importante. E saber que o plástico que existe no mar é até 16 vezes maior do que se pensava anteriormente devia preocupar-nos.
Porque a natureza é o palco em que o mundo acontece. Porque o ambiente dá o cenário em que defendemos causas. Porque o planeta é o espaço em que nos movemos. Porque o mar é fonte de vida.
Quando era mais nova, queria que o mar fosse a minha vida. Imaginava um mundo em que era marinheira, sonhava com uma profissão de bióloga marinha e alimentava uma ilusão em que treinava golfinhos.
Ao perceber que as brincadeiras do oceano se começavam a mesclar com a produção fictícia de jornais e talk-shows, a minha irmã fez um plano: eu devia estudar biologia marinha e depois ir aprender a ser uma jornalista a sério. Como resultado, iria viajar pelo mundo e ser feliz a nadar entre a bicharada.
Contudo, a vida é o que é. E o “feliz para sempre” é mais irreal do que as minhas obras de ficção televisiva. Sem saber bem como, tentei cumprir a parte de “aprender a ser uma jornalista a sério”. E, no meio do percurso, a corrente acabou por me devolver ao mar.
Com o Plasticida, deparei com uma realidade que não fazia parte das minhas brincadeiras de bióloga. No sonho, a água é sempre cristalina e a fauna nada porque quer nadar, sem nada que a prenda. Mas o mar não é uma brincadeira. E, se queremos que continue a fazer parte dos nossos sonhos, temos que desplastificar.
Para ajudar o oceano, não temos obrigatoriamente que viajar pelo mundo para nadar com a bicharada, conhecê-la, treiná-la e tratá-la. A preservação começa onde quer que estejas.
Diz não ao plástico e pede um copo de vidro. Diz não ao plástico a voar até ao mar e recicla. Diz não ao saco descartável e pega num saco de pano.
Quando ajudas o oceano, estás a ajudar-te a ti. Porque ele é a maior divisão da tua casa Terra. E não queres que ninguém a encontre desarrumada, pois não?
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